Na Dinamarca, ex-cria do Fla pede tratamento especial a Rafinha
Kayke diz que pressão excessiva e falta de maturidade o atrapalharam quando começou a carreira no clube carioca
Os mais de 200 gols que Kayke marcou nas categorias de base do Flamengo o fizeram emergir como uma joia no Gávea, no meio da década passada. Porém, quando chegou ao time principal em 2008 não apresentou o mesmo futebol, amargou a reserva, foi emprestado duas vezes e acabou deixando o clube do coração para buscar mais oportunidades na Dinamarca. Hoje, acompanhando de longe o despontar de Rafinha, mais uma promessa rubro-negra, o jogador do Aalborg pede calma para os erros cometidos com ele não se repitam e lembra que problemas políticos quase atrapalharam a chegada do jovem atacante.
- Lembro que quando ele veio do CFZ teve a questão com o Zico. Mas agora ele está mostrando que é um excelente jogador e que as críticas eram erradas. O pessoal do Flamengo confiou e acreditou nele e eles sabem o que fazem. Assisti a partida contra o Vasco e Rafinha foi muito bem. Claro que ele precisa amadurecer como todo, já que é um jogador jovem. Ele ainda é franzino, mas é jogador rápido e habilidoso e tem diversas outras qualidades. Os profissionais do Fla estão de olho nele e vão tentar não deixar a pressão atrapalhar. Creio que ele e o Nixon vão dar um caldo legal.
Assim que subiu para os profissionais do Fla em 2007, Kayke não conseguiu engrenar uma boa sequência e acabou sendo emprestado ao Brasiliense e posteriormente ao Macaé. Depois de um bom Carioca e com mais experiência, o atacante chegou ao Vila Nova-GO, em 2009, para jogar na segunda divisão do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, mais um empréstimo, dessa vez para o Häcken, da Suécia. Apesar das poucas oportunidades no Flamengo, Kayke explica que a forte pressão o atrapalhou.
- Acho que tudo tem o seu tempo e existe hora para tudo no futebol. Se não aconteceu, não era para ser. As pessoas do clube consideraram que eu não estava bem preparado. O Flamengo é um clube muito difícil, muito grande e que tem uma pressão grande, por vezes maior que a devida. Nos últimos anos isso tem mudado, mas na minha época era assim. Eu segui meu caminho e hoje sou completamente diferente. Aqui o futebol é de muita força e os requisitos para jogar mudaram, e eu acabei mudando.
Após uma rápida passagem pela terra de Ibrahimovic, veio o contrato com o Aab Aalborg. Há três anos por lá, o clube começa a brigar para se classificar para a Liga dos Campeões - a equipe está em terceiro no Campeonato Dinamarquês e dois se classificam para a competição continental. Entretanto, Kayke não pensa em continuar no país após o meio do ano. O que deveria ser um trampolim para um centro mais importante já dura quase três anos. Depois de todo esse tempo, o atacante espera uma nova chance em um clube brasileiro da primeira divisão.
- Ano passado alguns clubes da Holanda me sondaram, mas as conversas esfriaram. Eu estou com o objetivo de mudança agora e conversei com meu empresário e quero mudar um pouco. Temos conversado com alguns clubes da primeira divisão brasileira. Estou esperançoso de voltar para o Brasil no meio do ano. Quando eu cheguei era para ser um trampolim, mas tive que ter paciência para ir para um clube maior na Holanda, Alemanha ou Portugal. Jogando no Brasil bastam algumas partidas para ser conhecido nacionalmente e mundialmente até. Se o clube classificar para a Liga dos Campeões, eu estarei mais perto de definir alguma coisa e vou tomar a decisão pensando nisso. A conquista da vaga é boa para tudo, para currículo e para mim mesmo.
Adaptação
Neste período em que está no país nórdico já deu tempo para compreender a cultura local. Apesar da língua oficial ser o dinamarquês, Kayke utiliza o inglês para se comunicar e revela que a ausência da família faz falta em alguns momentos. Mesmo assim, depois de três anos, amigos não faltam para diminuir a solidão, e as visitas da namorada também ajudam.
- Quando eu cheguei na Europa, o meu irmão morava aqui comigo para jogar no sub-19. Mas ele foi obrigado a voltar para o Brasil por questões trabalhistas. Depois disso, minha mãe e ele vêm me visitar e minha namorada também. O meu contrato com o clube prevê passagens aéreas para mim e meus familiares. É complicado por ficar um pouco sozinho, mas hoje melhorou pois tenho amizades no clube.
Depois de uma temporada difícil em que não conseguiu se acertar, o Flamengo começa 2013 apresentando um bom futebol, muitos gols e vitórias. Os altos e baixos do ex-clube não surpreendem Kayke, que garante estar animado com a fase atual do time. Apesar do coração vermelho e preto e de não esconder de ninguém o desejo de deixar o futebol dinamarquês, o atacante revela que seguirá com a carreira naturalmente e a espera de um retorno ao Ninho do Urubu.
- O Flamengo é sempre Flamengo, independentemente do momento. Não é de hoje que as dificuldades acontecem no flamengo, e criam mal-estar no clube, isso não é novidade. Eu sei como é isso, mas acredito que com essa mudança de diretoria, vendo como torcedor do Flamengo, tem tudo para melhorar. O elenco do Fla está jogando bem. Em relação a um convite é difícil falar, mas como eu fui criado na Gávea, o sonho permanece para eu mostrar o que não consegui da primeira vez. Mas mantenho os pés no chão e tenho minha carreira aqui. O futebol tem dessas coisas.
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