Esse cara é o Zé?
Muricy, com toda a sua bagagem e respeito (isso independe da sua necessidade de se reciclar ainda mais, no momento em que se encontrava quando corajosamente assumiu o Flamengo), em meses não conseguiu dar ao clube um padrão tático visível. Ele tentou (falhou, sem discussões) dar ao time uma formação que garantisse uma posse de bola opressora, e um sistema bem compacto de defesa. Não deu. Nem quando voltava ao seguro 4-4-2 as coisas seguiam o plano, pois a equipe estava sem liga, desorganizada, perdida.
Quando a saúde falou mais alto e o teimoso (porém querido) Muricy se aposentou, o prata da casa Zé Ricardo assumiu, e se me permitem o floreio, foi a brisa frente ao furacão que vez ou outra dá as caras pela Gávea. Sem falácias, não fomentou o sensacionalismo. Jovem, conhecedor do clube, sereno, trabalhou. Os resultados apareceram – números podem parecer mentir quando a injustiça vem a afrontar uma eventual eficácia, mas são indicadores de rendimento desde sempre, para sempre. Longe de jogar o fino da bola mas evoluindo, o que era o mais apático time do Flamengo em anos, com o comando de Zé, acumulou no Brasileirão 5 vitórias, 4 derrotas e um único empate.
Nem de longe o Flamengo agrada no que tange a sua ofensividade. É algo em que Zé Ricardo precisa trabalhar com denodo. O time perde todo o tempo chances imperdoáveis, e a bola jamais se furta a punir. Zé também precisa olhar para seu banco, e ver que possivelmente tem escalado quem se encaixa (ou não) em detrimento a quem poderia agregar mais (sim, pensei nos gringos). E, ainda sobre ofensividade, inevitável falar na decepção Cirino. Por um lado, isolar o rapaz desvalorizaria a peça para uma eventual transação. Por outro, assistir os furos e atestar seu rendimento pífio, jogo após jogo, é algo que mina a paciência de qualquer torcedor. Eis aí um grande abacaxi para o prata da casa descascar.
Jogador é um recurso humano. É negociável e tem seus preços, mas dentro de si também conserva valores e sensibilidades. Técnico não pode se portar como chefe, mas assumir um perfil líder, e Zé Ricardo foi aceito como tal. Isso pode ser observado com a mudança na postura do time, que vivia uma inércia perigosa. Uma vez tendo ganho o grupo, e admitindo-se que convença diariamente a diretoria sobre a sua capacidade não só de treinar o time, mas de estudar o adversário (certos técnicos no país pensam que uma coisa nada tem com a outra), o então interino mostra que pode entregar mais do que o esperado. Os resultados apareceram. O clima é outro, muito distante da comodidade que nos feria a pouco mais de um mês atrás. Somando isso ao custo que Zé representa para o clube, que hoje é relativamente baixo (sim, vai aumentar e é natural), com um pouco de boa vontade aos mais corneteiros, se consegue ver a balança pesando positivamente.
É difícil pensar sobre isso após a trágica derrota em Itaquera? Sim. Mas alguém já parou pra mirar o lado cheio do copo, e ver que no primeiro tempo daquela partida, antes de uma desestabilização de fazer chocar com o primeiro gol sofrido, há um resumo e excelente demonstração dos ganhos que o time teve com o novo coach?
Não vejo hoje uma opção para o cargo que seja melhor em custo e benefício e valha mais a aposta. Entre erros, acertos e expectativas, prefiro o trabalho silencioso, que prova o seu valor matando pequenos desafios (o grande desafio por vezes é um amontoado de coisas pequenas) do que a grife ou alguns carimbos conhecidos. Esse cara, o tão sonhado comandante rumo a posições mais dignas de Flamengo, pode sim ser o nosso Zé. Preferia o Abelão? Pois eu humildemente não. Com toda certeza não.
Vamos, Flamengo!
Bruna Uchôa
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