Os caminhos para um 3 a 0
Quem viu e quem não viu o jogo sabem que o Corinthians é uma equipe muito mais entrosada e funcional que a do Flamengo. Há um padrão tático num time sem estrelas, e o título da Libertadores não foi conquistado por acaso ou sorte.
Ainda assim, 3 a 0 não é um placar habitual para os corintianos. Houve na Libertadores um idêntico contra o Emelec e antes um excessivo 5 a 0 sobre os são-paulinos, algumas das raras exceções de um time que se acostumou a vencer por 1 a 0 nesses quase dois anos sob o comando de Tite.
Como Emerson Sheik marcou 3 a 0 no bolão em que Joel anotou 4 a 0, essa foi a sorte. O pênalti desperdiçado evitou inúmeras hipóteses radicais, e creio que manteve até o cargo de Joel. Um 4 a 0 em casa teria provocado uma ejeção imediata.
Bottinelli, Renato e Aírton abusaram dos erros individuais. Mas a verdade é que o atual técnico rubro-negro consegue desmistificar o conceito de que um treinador precisa de tempo para que seu trabalho renda frutos.
Passaram-se seis meses, e a ideia de um sistema de jogo parece banida da Gávea. E olha que as eliminações precoces permitiram que Joel tivesse tempo para aplicar estratégias na equipe que herdara de Vanderlei Luxemburgo. Não foram apenas seis meses com Joel: foram seis loooongos meses com ele.
Ou Joel não tem o que mostrar, ou a equipe não leva a menor fé nos ideais dele. O torcedor não vê evolução, sente o treinador desconectado da realidade e já calcula os pontos que faltam para os 45 que teoricamente livram do rebaixamento.
É até engraçada a obsessão de que o time precisa deum “camisa 10″, essa figura mítica que, no glossário rubro-negro, remete a um “novo Zico”. Um Diego, um Riquelme?
Sinceramente, o que falta no Flamengo é um projeto a longo prazo. Joel foi contratado para ser bombeiro, e nunca foi mais do que isso. Não é dos técnicos que tem olho para contratar e muito menos é dos inventivos da prancheta.
Como resultado, as contratações dos últimos tempos que permanecem no time são, em sua maioria, velhos conhecidos destinados a apaziguar as ansiedades da torcida com nostalgia: Vágner Love, Ibson (no seu segundo retorno), Renato Abreu, Aírton e o inevitável Adriano.
(É até engraçada a revolta com que a diretoria recebeu o “não” do zagueiro Juan, em baixa na Roma e hoje no Internacional. Parece até que ele estragou todo um modelo de reforços…)
O Flamengo padece de ser gerido de fora para dentro, pela pressão da torcida ecoada na mídia, uma vez que dentro de suas dependências não há firmeza, projeto ou pulso. Seus dirigentes impulsivos já ameaçam fritar o mais lúcido – e o que mais entende de bola ali dentro -, que é o moderado Zinho, tudo para tentar igualar as contratações que os rivais fizeram e que o clube da Gávea não consegue concretizar.
Faria mais bem ao Flamengo ter um projeto, algo que não fosse mais para 2012. Foi assim que o Corinthians montou o time que conquistou a Libertadores um ano depois de ser eliminado pelo Tolima. Foi assim que o Corinthians acertou na contratações e hoje parece não sentir falta dos outrora imprescindíveis Alex e Liedson. Foi assim que o Corinthians construiu o indiscutível 3 a 0 desta última quarta-feira – e quase fez 4 a 0.
Quando o Flamengo e o Corinthians são postos em perspectiva, os erros individuais são os que menos se refletem no resultado.
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