Mãos à obra: Jorginho usa muitos gestos e poupa árbitro na estreia
A lateral de um campo de futebol é o habitat natural de Jorginho. Por ali, construiu uma carreira vitoriosa, chegou à seleção brasileira, ganhou Copa do Mundo. Por ali, estreou no comando do Flamengo, nesse sábado, diante do Boavista. Do lado de fora, no entanto, não pôde fazer muito. Gritou, gesticulou, cruzou os braços, descruzou, ficou debaixo de chuva, mas não evitou um 0 a 0 decepcionante, que resultou em uma trilha sonora nada agradável em seu reencontro com o torcedor rubro-negro 24 anos depois: vaias.
Inquieto como nos treinos, Jorginho parecia querer jogar junto de seu time. Se ao sair do vestiário logo se refugiou no banco de reservas, onde atendeu pacientemente a imprensa, bastou a bola rolar para o treinador deixar o local e não voltar mais. Em pé, assistiu a todo o primeiro tempo bem próximo dos jogadores, que atacaram para seu lado. Com as mãos, tentava passar sua mensagem a todo instante e não se privava de recados mais curtos para quem passava por perto.
Rafinha e João Paulo foram os alvos mais comuns da etapa inicial. Com o jovem, a preocupação parecia ser o posicionamento na saída de bola adversária. Com gestos, determinava onde o atacante deveria ficar e fazia sinal de positivo quando a ordem era cumprida. Já o lateral-esquerdo recebeu um alerta após vacilar na marcação a Leonardo, que atacava em seu setor. O Flamengo já tinha retomado a posse de bola quando Jorginho chamou o camisa 6 e fez sinal com as mãos, como que dissesse: “Cuidado com a bola nas costas”.
A cada ação ofensiva rubro-negra, o treinador respondia com aplausos de incentivo. Durante todo o jogo, um personagem passou imune: o árbitro Péricles Bassols. Se Lucho Nizzo, do lado do Boavista, teve que ser até repreendido, Jorginho não demonstrou qualquer irritação com suas decisões.
Preocupado com seu time, chamou Ibson para um rápido bate-papo e movimentou o próprio corpo como se pedisse para o volante fazer o mesmo para se desvencilhar da marcação. Em jogadas de bola parada, fazia questão de informar onde cada jogador deveria estar e incentivou Alex Silva a ir para área algumas vezes.
Durante todo o jogo, poucas foram as vezes em que Jorginho caminhou até o banco. Sentar, nem pensar. O pequeno trecho só era percorrido para beber água ou conversar com o preparador físico Joelton Urtiga. Ao descer para o intervalo, esquivou-se da imprensa, enquanto ouvia as vaias do torcedor.
No segundo tempo, o contato com o time ficou restrito. Como o Flamengo buscava o gol para o lado oposto, as orientações eram passadas na maioria das vezes para Alex Silva, que retransmitia para o time. Aos 14 minutos, resolveu mudar e chamou Nixon e Gabriel. Após bate-papo longo com os jovens, mandou-os para campo em substituições que, como admitiu depois, não surtiram efeito.
Na parada técnica, o primeiro sinal de preocupação mais evidente. Se no primeiro tempo o treinador chegou até a ouvir Ibson pacientemente, na segunda foi ele quem falou bastante, chegando até mesmo a entrar em campo. A equipe, por sua vez, não correspondia e, mesmo com domínio do jogo, pouco assustava o Boavista.
Nos 20 minutos finais, choveu forte no Engenhão. Jorginho nem ligou. Sem sequer pegar um agasalho, o treinador ficou ali, na linha lateral, alternando braços cruzados, mãos na cintura ou para trás. A espera pelo gol que fizesse repetir o 1 a 0 de sua estreia como jogador, em julho de 1984, contra o Botafogo, entretanto, não surgiu. Após 90 minutos do outro lado da linha lateral, o treinador desceu para o vestiário frustrado... e molhado.
Comentarios